O Congresso Internacional “Fidelino de Figueiredo: Filosofia e Literatura – Um homem na sua humanidade” reunirá tanto professores e críticos das literaturas e culturas de língua portuguesa, como pesquisadores em formação que refletem de forma constante e sistemática acerca dessas literaturas e culturas em suas cátedras e pesquisas. O evento pretende refletir sobre um nome central para o desenvolvimento dos estudos das literaturas de língua portuguesa e da literatura comparada, até hoje pouco analisado. Professor convidado na USP de 1938 a 1951, tendo ainda, no período, trabalhado por dois anos e meio na Universidade do Brasil no Rio de Janeiro, Fidelino de Figueiredo (1888-1967) é um intelectual fundamental para pensarmos sobre a evolução dos estudos literários em nosso país. Desde muito cedo um comparatista, o estudo de sua vasta obra – que apresenta trabalhos sobre diferentes domínios, como a literatura, a filosofia e a música – pode permitir que melhor compreendamos os rumos seguidos pela crítica literária no Brasil e particularmente em São Paulo, onde formou várias gerações. Tendo-se afastado do ambiente intelectual português por razões políticas, nunca fez do desterro um refúgio. Antes o aproveitou para alargar os horizontes do seu pensamento. O ensino − em países tão distintos como a Espanha, o Brasil ou os Estados Unidos – libertou-o das amarras do nacionalismo ideológico, tornando-o cada vez mais sensível ao que Goethe chamou um dia a “Literatura do Mundo”, um conceito que só se entende (em 1837 como hoje) se acreditarmos numa filosofia que possa transcender as identidades individuais ou nacionais. Para compreender a sua obra, temos, pois, de exercitar em nós um espírito comparatista que, no dizer de Cláudio Guillén, exclui os extremos e aprecia a deslocação. A visão que o século XX sobre ele desenvolveu nem sempre valorizou a sua arte ponderada, feita de angústias e dúvidas, de perguntas mais do que de respostas. Os que dividiram a sua obra em duas partes, a de cunho literário e a de crítica filosófica, não entenderam que ele as não dividia: eram partes alternadamente visíveis da mesma moeda. Os que o classificaram pelo seu pendor conservador, dito setecentista ou oitocentista, acreditavam num modelo, para as humanidades, que deveria afastar-se de qualquer dimensão espiritualista para se afirmar científico. A importância capital de Fidelino de Figueiredo na criação dos estudos de Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo torna ainda mais pertinente a realização da etapa paulista desse congresso.
O congresso é uma homenagem a Cleonice Berardinelli, a mais famosa discípula de Fidelino, que completará 100 anos em 2016. Cleonice Seroa da Mota Berardinelli é uma referência incontornável nos estudos sobre as literaturas de língua portuguesa. Nascida no Rio de Janeiro, em 28 de agosto de 1916, foi em São Paulo que fez sua formação, tendo sido graduada, em 1938, em Letras Neolatinas pela Universidade de São Paulo. Convidada então por Fidelino de Figueiredo para ser sua assistente, teve, por motivos familiares, de voltar para o Rio de Janeiro. Professora emérita tanto da Universidade Federal do Rio de Janeiro como da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Dona Cleo – como carinhosamente os seus amigos a chamam – já recebeu inúmeros prêmios e condecorações. É doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Lisboa, membro titular do PEN Clube do Brasil e correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, além de ser oficial da Ordem de Rio Branco. É ainda Membro Fundador da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa e Vice-Presidente de Honra da Associação Internacional de Lusitanistas. Recebeu, entre outras, a Comenda da Ordem de Santiago da Espada e a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, ambas concedidas pelo Governo de Portugal, a Medalha do Mérito Científico, conferida pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro, e a Medalha da Ordem do Desassossego, concedida pela Casa Fernando Pessoa. Atualmente ocupa a cadeira de número 8 na Academia Brasileira de Letras.
Na sua longa e profícua carreira – orientou 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutorado, além de ter proferido quase 200 conferências –, Cleonice Berardinelli recebeu várias homenagens. Entre elas se destacam o livro Cleonice Clara em sua geração, publicado pela Editora da UFRJ em 1995, o volume de abertura da coleção Figuras da Lusofonia, intitulado Cleonice Berardinelli, publicado pelo Instituto Camões em 2002, e o colóquio em Homenagem a Cleonice Berardinelli – “Quanto mais vos pago, mais vos devo”, promovido e realizado pela Cátedra Jorge de Sena com o apoio da Faculdade de Letras da UFRJ e da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2006. Nesta longa lista de homenagens a uma figura incontornável dos estudos das literaturas de língua portuguesa, a USP, universidade em que se formou, esteve até hoje praticamente ausente. Achamos, assim, importante dedicar-lhe esse congresso, que se iniciará com um depoimento que fez sobre o seu querido mestre, e terminará com uma homenagem feita por um dos organizadores do evento e pela Profa. Dra. Gilda Santos, coordenadora do Real Gabinete Português de Leitura e professora aposentada da UFRJ.
O congresso é fruto de uma parceria entre a Universidade do Porto e a Universidade de São Paulo, agora alargada com a UNESP, a UFBA e a UNEB, parceria que no biênio 2014-2015 gerou o Congresso Internacional de Língua Portuguesa: Filosofia e Poesia, que ocorreu na USP de 9 a 12 de dezembro de 2014, com apoio da FAPESP, e em Portugal, na Universidade do Porto, nos dias 13 e 14 de abril de 2015, e na Universidade Nova de Lisboa, em 15 de abril do mesmo ano. Esta experiência de trabalho conjunto possibilitou que planejássemos os três eventos sobre Fidelino de Figueiredo. O primeiro ocorreu de 12 a 16 de outubro de 2015, na Universidade do Porto, na Universidade de Lisboa e no Instituto Camões, em Portugal. O segundo ocorrerá em São Paulo, no Centro de Documentação e Memória da UNESP (CEDEM), nos dias 14 e 15 de março de 2016, e está sendo organizado em parceria pela Universidade de São Paulo e pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Por fim, ocorrerá ainda um terceiro congresso em Salvador, coordenado pelos colegas da UFBA e da UNEB.
A comissão organizadora
Presença confirmada da Prof.ª Dra. Isabel Pires de Lima, da Universidade do Porto. Leia a programação completa aqui.
As inscrições para ouvintes estarão disponíveis de 15 de fevereiro a 04 de março de 2015.
Vagas: 15
Evento Gratuito