Começaremos por interrogar o conceito de “ética da relação” no âmbito do regresso neo-humanista neste início de século XXI marcado por uma crescente tecnicidade podendo, nas palavras do filósofo Giorgio Agamben (2007), levar a um processo generalizado de desubjectivação, aspecto já (d)enunciado por Michel Foucault.

Do ponto de vista da ética médica, uma das questões essenciais prende-se justamente com a perda da qualidade da relação, alienando uma prática milenarmente social do “registo do sujeito, que é por excelência o da ética” (Bouretz, 1993) e induzindo o paradoxo da desumanização num contexto de cronicidade das doenças, algumas das quais eram fatais há poucas décadas atrás (Sida, certos cancros).

Centrando-me assim na questão crítica da relação médico-doente, proponho, com base num trabalho de investigação inserido nas Humanidades médicas e aplicado à observação de consultas, reequacioná-la à luz da articulação entre texto e corpo, entre narrativa e discurso enquanto “acontecimento da linguagem” (Paul Ricoeur). “Cena viva” de corpos, gestos e voz em que as noções de tempo, de espaço e de diálogo ganham uma espessura própria, o palco da consulta convida, efectivamente, à escuta do «sentido mais profundo da narrativa», e uma reeducação do olhar do cuidador para «o interstício do discurso» (João Lobo Antunes, Ouvir com outros olhos, 2015). 

*A conferência será proferida via remota, a partir da Universidade de Lisboa, Portugal. Haverá emissão de certificados, válidos também para as AACC.

Nota Biográfica da conferencista

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