Inscrições gratuitas com certificado de participação. ATPAs. 4h.
Organização de Marcia Arruda Franco (USP)
Apoio institucional:
Programa de Pós-Graduação de Literatura Portuguesa – DLCV/FFLCH/USP
Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais – EACH/USP
Fundação Calouste Gulbenkian (FCG)
Biblioteca Nacional de Portugal (BNP)
CELP (FFLCH-USP)

Palestrantes:
Nuno Júdice (UNL-FCG)
Mirhiane Mendes de Abreu (UNIFESP)
Marina Damasceno de Sá (USP)
Thiago Mio Salla (USP)
Marcia Arruda Franco (USP)

INSCRIÇÕES AQUI
 


O jornalista, ficcionista, tradutor, editor, crítico e historiador literário português, José Osório de Oliveira, exerceu atividade intelectual no período que vai de 1917 a 1964, quando morreu. Mário de Andrade, no artigo “Portugal”, de 18 de agosto de 1940, referindo-se à História Breve da Literatura Brasileira, de 1939, afirma que “foi José Osório de Oliveira o primeiro intelectual português a conceber a nossa literatura como uma entidade unida e independente, um corpo lógico e tradicional em movimento, e não apenas como um florilégio de escritores que se sucediam esporadicamente, apenas vivos pelo acaso da maior ou menor inteligência que possuíam”.
Este primeiro historiador e ensaísta português da literatura brasileira, desde a década de 1930, ao longo da década de 1940, e na seguinte, revendo o seu estudo inicial de 1926, intitulado Literatura Brasileira, ainda a divulgou em Portugal por meio de intensa atuação editorial.
Além de secretariar a revista luso-brasileira Atlântico, dirigiu coleções sobre o Brasil e organizou em editoras portuguesas oito antologias, afora a de Alguns Contos de Coelho Neto, para o elogio do autor por João Neves Fontoura, de 1944 – três de poesia brasileira, em 1942, 1944 e 1954, três de contos brasileiros, em 1944, 1947 e 1948, uma de Ensaístas brasileiros, em 1945, e outra de Prosas brasileiras, em 1946, – cujo objetivo era apresentar ao público português diversos autores e autoras do Brasil, mal conhecidos em Portugal, que construíram, do século XIX ao XX, a literatura brasileira, no sentido amplo, incluindo ensaístas, sociólogos, musicólogos, etnógrafos, linguistas, poetas, prosadores, contistas, folcloristas, para aferir a existência de um pensamento nacional brasileiro autônomo. 
Como crítico literário a sua atividade foi intensa: publicou o opúsculo de 1926, Literatura brasileira. Os 8 de Espelho do Brasil (1933): Prefácio Sentimental; Um Romance do Brasil; O Brasil desvirtuado I e II; “Retrato do Brasil”; “Música Brasileira”; Diversidade e unidade do Brasil; Aspectos da Moderna Poesia Brasileira, e Postfácio Conceituoso. Os 6 de Psicologia de Portugal e outros ensaios (1934): Nova Imagem do Brasil; Pequeno discurso na passagem do equador; Mensagem à nação brasileira; Poema do cafezal; Saüdação à terra de São Paulo e Leituras sobre o oceano. Os 6 de em Enquanto é possível (1942): O Brasil: espelho de Portugal; Resumo do Brasil para portugueses; Apologia de três poetisas brasileiras (Cecília Meirelles, Adalgiza Nery, Oeneyda Alvarenga); Um poeta brasileiro, exemplo de crítica apologética (CDA); O Brasileirismo de Machado de Assis. Além dos prefácios e apresentações autorais para as antologias, escreveu artigos sobre a literatura brasileira e o Brasil na revista Atlântico. Em 1950, Explicação de Machado de Assis e do Dom Casmurro; Um Garrett brasileiro (Influência do Brasil em Portugal), publicado na Revista do livro, em 1956.
O interesse de Osório pelo Brasil se revela em sua correspondência privada com Mário de Andrade. Iniciada pelo brasileiro, esta correspondência, de 1932 a 1943, inédita no que tange às cartas de Osório de Oliveira, abarca uma série de manifestações culturais: música, canto, literatura, poesia popular, danças dramáticas, festas populares, xilogravura, abordando alguns lugares comuns da poesia lírica culta portuguesa, e brasileira, como o verso reiterado por Mário, de Losango Cáqui: “A própria dor é uma felicidade” ou a tradicional “queixa” portuguesa, definidores de uma psicologia ora luso-brasileira ora portuguesa. Além disso, são discutidos
temas políticos de interesse para a questão da defesa da cultura luso-brasileira, e não só, tais como a má circulação de livros brasileiros em Portugal e vice-versa, a língua brasileira, a guerra civil paulista, o separatismo, o fenômeno paulista, o calor carioca, o fascismo versus o comunismo, o liberalismo, a democracia, a Segunda Guerra Mundial, o emprego de intelectuais no funcionalismo público, os limites entre a sua possibilidade de ação social e a colaboração com o totalitarismo; afora esses temas, no ar daqueles tempos, os correspondentes trocam um conjunto de materiais culturais: listas, programas de espetáculos de música e festas populares, livros, artigos, revistas, transmissões radiofônicas, mostrando interlocução intelectual ativa.
Enfim, a obra de Osório de Oliveira, com 54 títulos em volume, não se restringe a seu interesse pelo Brasil. Escreveu O Romance de Garrett, dedicando-se também a relações de Portugal com as culturas afro-portuguesa, espanhola, francesa e inglesa. A sua ensaística e atividade editorial dividida entre Portugal, Brasil e a África portuguesa nos oferece material para entender o mundo que o português criou de acordo com a ensaística de Gilberto Freyre, com quem também se carteou.
No IEB/USP está depositada a série de cartas que José Osório de Oliveira escreveu a Mário de Andrade e os livros que lhe dedicou manualmente. Na biblioteca da Faculdade de Letras de Lisboa encontra-se a coleção de livros de Osório de Oliveira com os exemplares que recebeu
de autores brasileiros. A BNP detém um conjunto de correspondência conservada no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, cuja síntese pode ser encontrada no link abaixo:
https://acpc.bnportugal.gov.pt/colecoes_autores/n24_oliveira_jose_osorio.html

 


Arte do flyer: Paulo César Ribeiro Filho.