“AUTORIA E IMAGINÁRIO: ANTÓNIO LOBO ANTUNES”
O autor como entidade ou, se se preferir, como categoria literária, é há tempo objeto de reflexão da crítica. Isso se deve, entre outras razões, à complexidade daquele que Roland Barthes chama de écrivain, o sujeito que tanto herda um conhecimento normativo - chegam-lhe técnicas de composição e gêneros textuais -, quanto expressa um talento graças ao qual engendra sua retórica, plasmando a estilística que transgride regulamentos e reverbera originalidade. No seio dessa dialética, difícil não virem à baila taxonomias como as de "autor implícito" ou "autor implicado", discutidas por Gérard Genette, quando então recebem releituras certas intrigas cuja voz autoral, numa rede discursiva, fricciona-se menos ou mais em narradores e personagens. Afinal, assinaturas ganham encenação, decalcam experiências e atestam repertórios.
Os procedimentos que agenciam a escritura, é o caso do simulacro e demais disfarces da ordem de projeção do écrivain, deixam vazar marcas do presente e do passado, isto é, as vivências ou mesmo as cicatrizes desse literato em trabalho de enunciação, na medida em que sonho e labor se intercambiam e manifestam tensa constelação de saberes. Michel Foucault, em ensaio O que é um autor?, diz com propriedade que, independentemente de o leitor se reportar ao escritor evocando seu nome ou seu prenome, essa denominação "permite reagrupar um certo número de textos, delimitá-los, selecioná-los, opô-los a outros textos. Além disso, o nome de autor faz com que os textos se relacionem entre si".
Com efeito, a força da obra de António Lobo Antunes muito justifica o lugar honroso que ele ocupa, sobretudo, nas literaturas de língua portuguesa contemporâneas. Qualidade e dimensão estéticas, reconhecidas mediante inúmeros prêmios obtidos, como o Prêmio Camões e o Prêmio Juan Rulfo, reclamam constantes revisitas à sua ficção, de modo a reencontrar, nessa densa matéria, episódios e flagrantes da vida desse autor português, reelaborados, metaforicamente, em estruturação memorialística de cósmica latitude. Portanto, este simpósio intitulado "Autoria e imaginário: António Lobo Antunes" homenageia o écrivain cujo constructo encapsula a História de uma nação e compreende o ser em situação de conflito universal - daí sua poética de testemunho, de compleição mítica e de alcance catártico.
PROGRAMAÇÃO
Quinta-feira, 21 de outubro
10h | Conferência: O nome das coisas em António Lobo Antunes: Objetos fetiches e outros simulacros
Prof. Dr. Vincenzo Russo (Cátedra António Lobo Antunes – Università Degli Studi Di Milano / Camões – Itália)
Mediação: Prof. Dr. Euclides Lins de Oliveira
14h | Conferência: António Lobo Antunes e a Imortalidade Literária
Prof. Dr. André Corrêa de Sá (University of California – Santa Bárbara – EUA)
Mediação: Prof. Dra Maria Auxiliadora Fontana Baseio
16h | Conferência: Trauma e Memória em Lobo Antunes
Prof. Dr. Sérgio Paulo Guimarães de Sousa (Universidade do Minho – Braga – Portugal)
Mediação: Prof. Dra. Luciane Lopes Bonace
Sexta-feira, 22 de outubro
10h às 12h | Sessão de comunicações: Apresentação de pesquisas sobre António Lobo Antunes
14h | Conferência: O Autor como Testemunha
Prof. Dr. Jaime Costa (Universidade do Minho – Portugal)
Mediação: Prof. Dra. Maria dos Prazeres Mendes
16h às 18h | Mesa-redonda: Cartas de guerra
Prof. Dr. Sérgio Paulo Guimarães de Sousa
Prof. Dr. André Corrêa de Sá
Mediação: Prof. Dra. Maria Zilda Cunha
18h30 | Encerramento e Momento Artístico-Cultural
(Peça teatral: "O que sou eu?")