Participaram: Luzia Barros (doutora ECLLP), Janaína Rodrigues (graduação Biblioteconomia/mãe moradora do Conjunto Residencial USP/CRUSP), Ademar Ludwig (Armazém do Campo/MST), Padre Lorenzo (Arsenal da Esperança), Padre Assis Tavares (Movimento de Defesa dos Favelados).
A mesa do pobre é escassa, mas o leito da miséria é fecundo.
(Adágio popular)
No próximo dia 13 de outubro, das 18h às 20h, reafirmaremos o nosso compromisso com a solidariedade, pois sabemos que "é possível entrever uma solução para as grandes desarmonias que geram a injustiça...". (Antonio Candido, O direito à Literatura). O convite é destinado a todas e todos - docentes, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação, funcionários, cidadãs e cidadãos não pertencentes à comunidade USP - que queiram participar da live "Na raiz, a fome!", ouvindo, lançando questões no chat, refletindo sobre um tema tão dolorido e que mereceu data especial da ONU para que todas as nações repensem suas prioridades; há 40 anos, em 16 de outubro de 1981, foi criado o Dia Mundial da Alimentação. No entanto, o problema parece longe de ser resolvido e, com a pandemia de covid-19, agravou-se ainda mais.
Dados do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2021, divulgado em 12 de julho último, apontam que, em 2020, o número de pessoas que passa fome aumentou em milhões em relação ao ano de 2019, sobretudo na América Latina, Caribe, na África e na Ásia. No Brasil, alguns estudiosos revelam que 19% da população passa fome reforçando que a insegurança alimentar aumentou em 55% (Ver aqui).
Para conversarmos sobre esse problema, convidamos Luzia Barros, doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa que se dedica a estudar o fenômeno nas literaturas brasileira e cabo-verdiana e nos estudos de Josué de Castro (1908-1973); convidamos também Ademar Ludwig, graduado em História pela UFPB, especialista em Agroecologia pela USP e Escola Nacional Florestan Fernandes e um dos coordenadores de loja dos Armazéns do Campo, um grupo de lojas do MST.
E por que estamos chamando este evento de live solidária? Porque chegamos à conclusão de que não é mais cabível abordar um problema dessa ordem sem olhar para o entorno. Basta uma rápida pesquisa ao Jornal da USP* e veremos que estudantes se mobilizaram, desafiando a pandemia para socorrer as populações que ficaram mais vulneráveis. Campanhas foram feitas pelas entidades de classe. Toda ação solidária parece pouca. Mas é sabido que o Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos, conforme estudo divulgado no site da Agência FAPESP, em 05 de outubro de 20213.
Refletindo sobre esses aspectos, e com a responsabilidade acadêmica de abordar um assunto tão urgente, consultamos alguns agrupamentos que estão bastante vulneráveis e, nessa iniciativa conjunta entre pesquisadores, o Armazém do Campo, as entidades estudantis e o CELP (e outras entidades dentro da USP) decidimos promover essa ação solidária e, de antemão, deixamos bem claro que temos consciência plena de que pertence ao Estado brasileiro a obrigação de liderar as políticas de combate à pobreza, à fome, à falta de acesso aos bens materiais e culturais. Porém estamos numa situação de exceção ocasionada pela pandemia e pela quase ausência do Estado.
Assim sendo, nos somamos e decidimos fazer dessa live uma ação de arrecadação de alimentos e outros itens para levar nosso alento, nossa solidariedade e, mais, nosso compromisso estético, pedagógico e político. Um início de uma atuação concreta que ligue a fome de comida à fome de saber e à fome por resgate da dignidade humana e à fome por transformações reais favoráveis à vida de todos e que contribua, ainda que de maneira modesta, para diminuir os efeitos devastadores da pandemia sobre a população e que, sabemos, se prolongará além desse momento tragicamente agudo pelo qual estamos passando e, no âmbito da universidade, ameaça a permanência estudantil tão necessária para a formação acadêmica de nossos estudantes, especialmente as mães que moram no conjunto residencial do CRUSP.
PARCEIROS
Divulgue esta página informativa entre seus familiares, amigos ou espaço de trabalho http://e.usp.br/itd. Se preferir, divulgue o QR CODE ao lado. O CELP se propõe a divulgar e ajudar a promover os trabalhos das instituições listadas a seguir. Entretanto, as doações devem ser encaminhadas diretamente junto às entidades, o CELP não está autorizado a receber qualquer espécie de doação, seja em itens, seja em depósito em conta bancária. No caso específico das entidades estudantis, somente as listadas abaixo são apoiadas por este Centro para essa ação. Desconsidere quaisquer outros grupos e pessoas que peçam donativos em nome dos estudantes da USP e mencionem esta página de divulgação do evento. Acesse os links, procure mais informações junto às instituições mencionadas e saiba como participar da campanha.
Armazém do Campo é o nome de sete lojas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra abertas em vários estados do Brasil, com unidades em Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife, Caruaru e São Luís, além de uma quitanda no centro da capital paulista e que procura ter produtos oriundos das cooperativas, dos assentamentos, das comunidades parceiras da agricultura familiar, que hoje representa mais de 70% do que os brasileiros consomem em suas mesas, incluindo leite, derivados, hortifrutigranjeiro, cereais e até mesmo a carne. O espaço também comercializa marcas de cooperativas de assentados, representadas por cafés, mel, geleias, sucos, achocolatados, cervejas artesanais, entre outros. Os produtos da Reforma Agrária são frutos da luta pela terra ao longo desses 36 anos de existência do MST e o Armazém do Campo é um ponto de encontro político e cultural que busca aproximar a Reforma Agrária Popular da classe trabalhadora da cidade. Diversas atividades, tais como encontros artísticos, comemorações de datas especiais, festas e debates, foram suspensas no momento de pandemia. Grupos de pessoas têm se organizado para adquirir produtos do Armazém do Campo e fazer doações a instituições, entidades que trabalham com populações em situação de vulnerabilidade, que se agravou com a pandemia.
Site: https://armazemdocampo.shop/
O Arsenal da Esperança, desde 1996, acolhe diariamente 1.200 homens em situação de rua. Nos 25 anos de funcionamento ininterrupto já acolheu mais de 65.000 pessoas oferecendo-lhes um lugar limpo e acolhedor onde descansar, tomar banho, se alimentar, frequentar cursos profissionalizantes e outras oportunidades para reconstruir a vida. Em 23 de março de 2020, para proteger a população acolhida dos riscos de contaminação com o novo coronavírus, o Arsenal da Esperança fez a escolha de transformar a casa em uma quarentena (24 horas por dia). Em 30 de março de 2021 os acolhidos da casa foram vacinados contra a covid-19, e no dia 22 de abril a grande maioria deles recebeu a segunda dose do imunizante, numa ação fruto de uma parceria entre as Secretarias Municipais de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e de Saúde (SMS) da Prefeitura de São Paulo. A grande rotatividade na passagem das pessoas pela casa e as dificuldades de convívio em um ambiente tão complexo são fatores que exigem atenção redobrada por parte dos gestores e voluntários da instituição.
Site: https://br.sermig.org/o-que-fazer-juntos/apoie-os-arsenais/como-ajudar-5.html
"O papel dos movimentos sociais é importantíssimo de natureza política, de natureza ética e de natureza estética". Paulo Freire
O MDF surgiu legalmente em 1985 e, de acordo com seu estatuto, na "luta por direitos contra a marginalização socioeconômica e cultural dos moradores de favelas" tendo por missão "resgatar, proteger, defender e promover a cidadania dos favelados na sua dimensão política, artística, pedagógica mediante o tripé presença, resistência, solidariedade". {link 1} {link 2}.
O MDF compõe junto a outras organizações que atuam na Vila Prudente o Comitê de Crise do COVID19 nas Favelas da região de Vila Prudente Prudente tem participado de diversas ações, entre elas a de sanitização de vecos e vielas feito pra SABESP.
Site: https://www.mdf.org.br/
ATENÇÃO: Além de chamar a atenção para os trabalhos desenvolvidos pelas entidades acima, a live "Na raiz, a fome" tem o propósito de apoiar prioritariamente as estudantes que são mães moradoras no Conjunto Residencial da USP e que enfrentam o problema da insegurança alimentar para si e para seus filhos, que estão nas primeiras fases de desenvolvimento. Ao fazer sua doação a esse público específico, entre em contato com os responsáveis pelos links descritos abaixo e informe que tomou conhecimento através da live "Na raiz, a fome" e que sua doação deverá ser destinada às mães moradoras no CRUSP. Reforçamos o alerta de que somente os links listados abaixo são apoiados por este Centro para essa ação; desconsidere quaisquer outros grupos e pessoas que peçam donativos em nome dos estudantes da USP e mencionem esta página de divulgação do evento.
O trabalho surgiu como resposta a um quadro extremo de vulnerabilidade, após um seguido suicídio de um membro da comunidade uspiana, estudante e morador do Conjunto Residencial da USP. O trabalho não é o avesso da luta pela permanência estudantil, o coletivo luta para que esses estudantes de fato, hoje, possam realizar seus estudos e pesquisas com excelência na universidade pública.
1FAO, IFAD, UNICEF, PMA e OMS. 2021. O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2021 .
Transformando os sistemas alimentares para a segurança alimentar, melhor nutrição e dietas saudáveis acessíveis para todos . Roma, FAO.
https://doi.org/10.4060/cb4474en
2Jornal da USP
https://jornal.usp.br/busca/?q=estudantes+pandemia+campanha
3Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/pesquisa-aponta-caminhos-para-reduzir-o-desperdicio-de-alimentos-no-brasil/36992/