Nos anos de 2016 e 2017, a Profª Drª Claudia Nigro, da UNESP (S. José do Rio Preto), organizou os congressos internacionais “Literatura e Gênero” que, em suas duas edições, contaram com apoios da FAPESP. Ambos os eventos, praticamente inéditos no âmbito das universidades paulistas, tiveram a presença massiva de pesquisadores internacionais e brasileiros e muito contribuiu para a divulgação e consequente consolidação, na área de Letras e Linguística, do amplo campo dos estudos de gênero (os gender studies).
Quase que ao mesmo tempo, entre 2015 e 2018, quatro colóquios internacionais denominados “Queering the Afro-Luso-Brazilian Studies", ocorridos em universidades da França, Suécia, Reino Unido e Portugal, propuseram uma revisão radical das literaturas e culturas de Língua Portuguesa com leituras inéditas ou revisões de manifestações culturais (des)orientadas pela Teoria Queer. Esses colóquios reviveram o espírito dos encontros sobre “Literatura e homoerotismo", que tiveram lugar na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), entre 1999 e 2001, e que resultaram na fundação da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH).
As quatro conferências europeias, assim como as duas edições do Congresso Internacional de Literatura e Gênero deram novo fôlego aos estudos gênero e estudos queer, sobretudo, pela aproximação e reaproximação dos pesquisadores, pela intensa troca de experiências e conhecimento entre seus participantes, e por recolocarem em evidência os estudos literários, artísticos e culturais, áreas nas quais floresceram os estudos queer e de gênero.
Em 1999, quando organizamos o primeiro encontro de pesquisadores intitulado “Literatura e Homoerotismo”, a área de Letras, no Brasil, encontrava-se num processo profundo de revisão conceitual e de sua atividade crítica na medida em que os estudos culturais, os estudos pós-coloniais e os estudos de gênero começavam a estabelecer tensões evidentes com nossa tradição acadêmica. Aquelas novas abordagens apontaram novos problemas dos quais emergiram novos objetos - o processo levou a uma profunda revisão teórica da área, da qual são testemunhos os congressos da ABRALIC de 1998 (Florianópolis, SC) e 2000 (Salvador, BA). Dessa maneira, o ano de 2019 marca duas décadas de uma longa jornada acadêmica, iniciada pela introdução de elementos considerados estranhos até então no âmbito dos estudos literários. Estranhos porque invisíveis, estranhos porque marginais, estranhos porque abjetos.
Invisibilidade, marginalidade, abjeção são conceitos, porém, largamente difundidos, discutidos e problematizados hoje pela crítica, que compreende não apenas a sua existência e viabilidade como objetos de investigação, mas porque neles reconhece a sua potencialidade crítica para uma sociedade que se deseja profundamente democrática. Especialmente em tempos em que setores mais conservadores levantam suas vozes contra o que denominam, falaciosamente, como “ideologia de gênero”.
O 5th Queering participa do Programa Entreartes, uma iniciativa da Superintendência de Tecnologia da Informação e da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.
Lembre-se de buscar o Evento do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa no APP. As inscrições para ouvintes estão abertas até o dia 12 de junho de 2019.