Relatório Bienal 2023-2024 do Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa - CELP
No biênio de 2023-2024 o expediente do Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa é composto pela diretora Profa. Dra. Rejane Vecchia da Rocha e Silva (DLCV) e vice-diretora Profa. Dra. Paola Poma (DLCV). O Conselho Deliberativo é formado por: Prof. Dr. Daniel Puglia (DLM), Prof. Dr. Michel Sleiman (titular/DLO) e Prof. Dr. Bruno Barreto Gomide (suplente/DLO), Prof. Dr. Antonio Vicente Seraphim Pietroforte (DL), Prof. Dr. Jorge Mattos Brito de Almeida (titular/DTTLC) e Prof. Dr. Fernando Baião Viotti (suplente/CTTLC), Profa. Dra. Iris Kantor (DH), Profa. Dra. Silvana de Souza Ramos (titular/DF) e Prof. Dr. Luís César Guimarães Oliva (suplente/DF), Prof. Dr. Rodrigo Ramos Hospodar Felippe Valverde (DG) e os representantes discentes Fernanda Sampaio Santos (PPG-ECLLP) e Vinícius Ferreira Modena (PPG-ECLLP). A secretaria é composta pela funcionária Giovanna Usai e o monitor Elivelton Leonel da Silva. A bolsa PUB conta com o trabalho do bolsista Gabriel Souza Périco.
1) EVENTOS
2024
Vera Duarte e sua obra: encontro com a autora
Laboratórios de criação – escrita de literatura e teoria: ano 6
XXIII Encontro de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
I Jornada de Estudos do Nonsense Literário e seus arredores
II JORNADA DE ESTUDOS MITOPOÉTICOS - O Senhor dos Anéis: 70 Anos de A Sociedade do Anel
2023
XI Jornadas de Literatura Portuguesa: tempos em convergência
I Colóquio de Produção Literária de Mulheres nas Literaturas de Língua Portuguesa
2) PUBLICAÇÕES
2.a Periódicos
Tantos séculos após a expansão europeia, sob o signo do Império, o peso das contradições continua incidindo no funcionamento das sociedades e na formação de seus imaginários tanto no centro como nas margens. Dentro e fora do campo estético, a força das “estruturas de sentimentos” (WILLIAMS:1973; SAID: 1978), vistas por alguns estudiosos de muitas áreas do conhecimento como o vetor dos impérios coloniais (FANON: 1979), permanece e espelha o “complexo colonial de vida e de pensamento” (BOSI:1970) que tem condicionado a história dos espaços implicados, manifestando-se, por exemplo, nas insistentes formas de demonização da África e edulcoração da Ásia.
A despeito das frequentes alegações a respeito do caráter especial do colonialismo português, o presente da metrópole e das ex-colônias aponta para a convergência com outros projetos imperiais, reclamando tanto novas análises de suas dinâmicas como abordagens que possam também se valer dos paralelos e confrontos de processos culturais que marcaram a história e definiram geografias, determinando a própria contraposição entre Ocidente e Oriente. Construída com base em imagens estereotipadas, tal dicotomia tende a projetar o primeiro somente como o lugar da hegemonia e a ver no segundo apenas um conjunto de imagens em movimento vinculadas às noções de abjeção ou fascínio. A discussão desses clichês tem estado na pauta de importantes estudiosos e escritores, em cuja produção, nas diversas línguas, se inscrevem noções de identidades e alteridades, que podem ganhar outros significados e formas diante de conceitos como “biblioteca colonial” (MUDIMBE: 2013) e “arquivo histórico de informação e de representações” (FOUCAULT: 1969).
A persistência de dispositivos da literatura colonial, a ambiguidade do sentido das viagens em narrativas contemporâneas, a figuração do imigrante como sujeito e objeto nas distintas modalidades discursivas, o empenho na desmontagem de pactos orientalistas são dados constitutivos da contemporaneidade que parece produzir o novo em confronto com o legado do “instrumento cognitivo do poder” (CARVALHO: 2008) e do esforço contra sua cristalização. Nesse quadro, tanto nas antigas metrópoles como nos territórios ocupados, tem crescido um interesse epistemológico e estético que resulta na multiplicação de olhares sobre os continentes americano, africano e asiático e se desdobra em análises centradas na produção acadêmica e literária de diferentes países.
Proposto para o número 44 da revista Via Atlântica, o dossiê “Colonialismo/orientalismo: figuras e figurações do Império em narrativas do passado e do presente” pretende participar desse debate acerca das construções imperiais, suas formas de persistência no tempo e/ou a diversidade de realização nos espaços e os diferentes modos de reagir aos códigos coloniais, tendo como eixo os seguintes tópicos:
- Mediação e resistência em contextos coloniais e pós-coloniais: estratégias e impasses nos patrimônios materiais e imateriais.
- Os contextos de língua portuguesa como produto(re)s e/ou reprodutores de narrativas orientalistas na literatura e em outras artes;
- O Oriente nas literaturas de língua portuguesa: representação e auto-representação;
- O colonial e o pós-colonial: memória cultural, gênero e raça nos contextos africanos e asiáticos;
- A alteridade nas fontes históricas da Ásia e da África;
- A Ásia e a África na imprensa colonial;
- Literatura e exotismo, ontem e hoje;
- O Brasil como lugar de “um certo oriente”;
- A sublevação contra-orientalista na literatura e/ou em outras artes: horizontes e dilemas.
ORGANIZAÇÃO: Catarina Nunes de Almeida (Universidade de Lisboa), Nazir Ahmed Can (Universidade Autónoma de Barcelona) e Rita Chaves (Universidade de São Paulo).
v. 24 n. 2 (2023): 100 anos da Literatura de Sodoma
100 ANOS DA LITERATURA DE SODOMA
A polêmica intitulada "Literatura de Sodoma" iniciou-se com a defesa que Fernando Pessoa fez das Canções de António Botto na Revista Contemporânea, em 1922, desdobrando-se em debates acalorados, contra e em defesa da obra de Botto e culminando com a publicação em 1923 de Sodoma Divinizada, de Raul Leal, e Decadência, de Judith Teixeira, que acabaram por fazer parte de uma das mais indigestas querelas da literatura portuguesa. As obras foram, inicialmente, em 1923, recolhidas pelo Governo Civil de Lisboa, vindo a passar por um limbo crítico e uma quase exclusão pelas histórias literárias, devido ao conteúdo transgressor das obras. Por isso, críticos conservadores, como Marcelo Caetano, consideravam essas publicações “obscenas" ou “arte sem moral nenhuma”. Esse dossiê especial da Revista Via Atlântica propõe, a partir desse evento histórico que ficou conhecido como "Literatura de Sodoma", (re)pensar a abrangência das temáticas queer, nas Literaturas de Língua Portuguesa, a partir das seguintes linhas temáticas:
- Literatura e censura (antes e depois da “literatura de Sodoma”);
- Literatura e pornografia/ erotismo (os antecedentes portugueses e brasileiros da Literatura de Sodoma);
- Poesia/ Literatura sáfica (antes e depois de Judith Teixeira);
- Estética do corpo masculino (antes e depois de António Botto);
- Poesia e transgressão cultural, erótica e/ou sexual (antes e depois de Raul Leal);
- Corpo, sexualidade e identidade nacional;
- Literatura, abjeção, monstruosidade e transgressão.
ORGANIZAÇÃO: Fabio Mario da Silva (Univ. Federal Rural de Pernambuco/ Poslet-UNIFESSPA), Mario Lugarinho (USP) e Emerson Inácio (USP).
Logo após a abolição da Real Mesa Censória, começaram a ser traduzidas para português várias obras libertinas francesas que já circulavam clandestinamente desde os finais do século XVIII. A chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro também vai favorecer o contato direto com essas obras, algumas das quais já publicadas ou traduzidas no Brasil, ou publicadas em Portugal por tradutores luso-brasileiros, como no caso de Saturnino, porteiro dos frades bentos. Com o decorrer dos anos, começa a surgir uma intensa produção de literatura licenciosa em Portugal, consumida in loco mas sobretudo no Brasil, um mercado de peso para editores e livreiros portugueses, sendo alguns autores, tal como Arsénio de Chatenay e Rabelais (Alfredo Gallis), verdadeiros sucessos de vendas no Brasil até a primeira década do século XX. Contudo, continuam também a ser exportadas as traduções de romances picantes franceses que roçam, na Belle Époque, o pornográfico, obras amplamente imitadas pelos autores portugueses nas várias séries licenciosas que surgem a partir de 1886, mas também pelos epígonos do naturalismo, tanto portugueses quanto brasileiros. Essas “leituras para homens”, como eram conhecidas, hão de circular até, pelo menos, os anos 1920, um Eros “Modern Style” que ganha visibilidade no Brasil com a multiplicação de revistas “alegres” às quais O Rio Nu abriu caminho.
Além disso, quer a literatura licenciosa da época quer a corrente naturalista, estão imbuídas de um moderno discurso sobre a sexologia, uma scientia sexualis vinda de fora, de França e de Alemanha essencialmente, mas que vem alimentar o imaginário erótico desses autores e desses publicações “alegres”. Sendo assim, não é de estranhar que os autores lusos e brasileiros comecem a encenar sexualidades dissidentes e parafilias nas suas obras, universos eróticos considerados como tétricos e patológicos: homossexualidade feminina, homossexualidade masculina, ninfomania, fetichismo, adicção sexual, frigidez, pedofilia, etc. Conquanto essas histórias e historietas picantes sejam meras fantasias para o leitor voyeur, no caso da homossexualidade, sobretudo masculina, o que é dado a ver e a ler deixa transparecer uma certa realidade. Com efeito, tanto no Brasil quanto em Portugal, já existiam comunidades homossexuais visíveis e essa literatura, marginal e marginalizada, tornava-se um “espetáculo do segredo”.
O objetivo do dossiê “Sexo e sensibilidades eróticas na literatura luso-brasileira de Oitocentos e da Belle Époque” é o de mapear essa produção, de dar a conhecer os seus autores, temas e de, sobretudo, fomentar o estudo de uma literatura marginal ainda por descobrir, tanto em Portugal quanto no Brasil.
A partir dessas considerações, o número 41 da revista Via Atlântica convida para a publicação de artigos e ensaios que possibilitem uma reflexão de caráter interdisciplinar sobre:
- Literatura licenciosa em língua portuguesa do século XIX e da Belle Époque;
- Revistas brejeiras e licenciosas;
- Autores e obras do naturalismo erótico;
- Dissidência sexual nas obras da época;
- Obras e temas queer;
- Scientia sexualis luso-brasileira e literatura coeva;
- Erotismo e brejeirice na música coeva (samba, fado);
- Teatro de revista e humor brejeiro;
- Erotismo visual da época (estampas, fotografias, cinema pornô, etc.).
ORGANIZAÇÃO: Fernando Curopos (Université Sorbonne Nouvelle) e Helder Thiago Maia (Universidade de São Paulo).
2.b E-books
Literatura Infantil e Juvenil: Linguagens do Imaginário em Reflexões Contemporâneas (2023)
O livro, Literatura Infantil e Juvenil linguagens do imaginário em reflexões contemporâneas, que ora apresentamos, nasce do esforço de professores e pesquisadores interessados pela produção literária e cultural para crianças e jovens e que visam a examinar a dinâmica que a engendra, nesta contemporaneidade. As reflexões, aqui enfeixadas, trazem como pauta questões relativas à prática, aos suportes de veiculação dos textos de literatura, às faces multimodais das produções, abordagens interartes, a maior parte dos estudos que compõem o livro, alinham-se a perspectivas metodológicas provenientes do comparatismo literário e de outras searas do saber. O resultado, como se poderá constatar, é um conjunto de leituras que não dispensam nem a função analítica, nem a função hermenêutica, nem a função judicatória da crítica literária. Os textos são apresentados pela ordem alfabética dos títulos.
Organização: Maria Zilda da Cunha, Dayse Oliveira Barbosa, Goimar Dantas de Sousa, Kellen da Silva Nascimento, Luciane Bonace Lopes Fernandes e Priscilla Barranqueiros Ramos Nannini.
Uma Narrativa Encantada: O Gesto Poético Transformando o Mundo - Homenagem a Maria Zilda da Cunha (2023)
Esta publicação consiste em uma primeira homenagem à professora doutora Maria Zilda da Cunha, profissional que tem contribuído significativamente para a área da Literatura Infantil e Juvenil (somente na USP lá se vão mais de 15 anos). Em um prazeroso novelar e desnovelar, atravessa-se o potente universo das imagens em seus movimentos, cores, linhas, texturas, luzes e sombras. Universo semiótico tão apreciado por Maria Zilda em suas pesquisas e reflexões, também presente nesta homenagem. Seus amigos, parceiros acadêmicos, mestrandos, doutorandos, supervisionados de pós-doutorado, membros do grupo de pesquisa Produções Literárias Culturais para Crianças e Jovens a admiram e a reconhecem como uma profissional de excelência e, o essencial, um ser humano sensível e generoso, fadado a encantar e encantar-se pela pesquisa, pela literatura e outras artes, pela infância, pelo mítico, pelo visto, pela potência do vir a ser, pelas frestas e enigmas da vida.
Organização: Fabiana Buitor Carelli, Lígia Menna, Paulo César Ribeiro Filho e Susana Ventura.
Fradique, Fradiquices & Cia (2024)
Fradique, fradiquices & Cia busca apresentar visões diversas sobre Eça de Queirós e seus livros, mas também lançar um olhar sobre a correspondência de Fradique Mendes, trazendo interpretações e análises tenazes e produtivas sobre o célebre dândi, sobre seu biógrafo e sobre suas missivas. Assim, se encontramos textos como o de Isabel Pires de Lima, que trata do hercúleo trabalho de A. Campos Matos sobre a obra de Eça de Queirós, homenageando o eminente queirosiano, temos também trabalhos mais específicos sobre a representação da personagem, sobre os temas ou sobre a linguagem encontradas na Correspondência, que dialogam com os outros textos do autor, além de refletir sobre a modernidade e a ironia de Fradique, personagem paradigmática na galeria queirosiana. Como trabalho conjunto, os textos são resultado das discussões mantidas ao longo de 2021 e 2022 nas reuniões mensais do Grupo Eça, que tiveram seus conteúdos ricamente acrescidos pelas conversas presenciais realizadas nos eventos do Rio de Janeiro e de Roma. Dessa maneira, espera-se que o livro Fradique, fradiquices & Cia mantenha a tradição do Grupo Eça, que é rever a obra queirosiana por meio de uma perspectiva crítica embasada nos mais novas e diversas abordagens literárias, com o objetivo de debater pontos pacíficos, polêmicos ou ainda não discutidos da obra do escritor português.
Organização: Hélder Garmes, Daiane Cristina Pereira, Giuliano Lellis Ito Santos e Maria Serena Felici.
3) ACERVO CELP - Sala 100
Organização e higienização profunda do acervo do centro para processo de catalogação e reabertura ao público: durante a pandemia o acervo ficou fechado e sem a devida conservação. Ao longo do retorno presencial das atividades na universidade, os protocolos de conservação foram reativados com os procedimentos de higienização completa do acervo bibliográfico e documentos do centro, assim como a adoção sistema CDD (Classificação Decimal de Dewey), principal sistema internacional utilizado para a catalogação e organização de acervos, implementada a partir do trabalho de monitorias idealizadas para a reabertura ao público dos itens da biblioteca.
Acervo da Professora Maria Aparecida Santilli: o acervo proveniente da doação de uma importante pesquisadora vinculada a história do CELP, a Profa. Maria Aparecida Santilli, uma das pioneiras do ensino de Literaturas Africanas no Brasil, consiste em um acervo e material de pesquisa e docência relativo aos anos de dedicação da professora Santilli aos cursos na Universidade de São Paulo.
Bolsa PUB - CELP 70 Anos: Investigando o Acervo de Literaturas Africanas
A fim de reorganizar a catalogação do acervo da Professora Santilli e conhecer profundamente os materiais bibliográficos inéditos e relevantes para Área de Literaturas Africanas, foi criado em 2024 o projeto PUB (Programa Unificado de Bolsas de Estudo para Apoio à Formação de Estudantes de Graduação) CELP 70 Anos: Investigando o Acervo de Literaturas Africanas, coordenado pelo Prof. Ubiratã Sousa (DLCV). Este projeto busca desenvolver atividades de manejo, análise e descrição do acervo bibliográfico do Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa (CELP) com vistas a identificar aspectos preliminares ligados à constituição histórica da Área de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, em função do espólio da Profa. Maria Aparecida Santilli (1925-2008), pioneira na pesquisa e ensino das Literaturas Africanas no Brasil.
O CELP foi fundado em 1954, há exatos 70 anos, e é, atualmente, o mais antigo centro de pesquisa em atividade da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Entre as atividades desenvolvidas pelo CELP, está o apoio a eventos científicos, a publicação de revistas (Via Atlântica) e como espaço para grupos de pesquisas diversos. Além disso, é uma instituição de custódia de vasto acervo bibliográfico, formado pelo espólio da Profa. Maria Aparecida Santilli (1925-2008), que, com seu orientando Prof. Benjamin Abdala Junior(1943-), foi pioneira nos estudos das literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil. Em 2015, o acervo do CELP recebeu parte da biblioteca de literaturas africanas de língua portuguesa do prof. Russell G. Hamilton (1933-2015, ex-reitor adjunto e professor de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de Vanderbilt, EUA) e também doações do prof. moçambicano Elídio Nhamona (egresso da USP, atualmente professor da Universidade Eduardo Mondlane), da Editora Letra Selvagem, da Profa. Elizabeth Ziani, da Profa. Elizabeth Battista (UNEMAT), da editora moçambicana Alcance, intermediada pela historiadora e escritora Ana Rüsche.