Ao definir o fenômeno da intertextualidade no livro Introdução à semanálise, Júlia Kristeva, a partir de Bakhtin, afirma que “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade instala-se a de intertextualidade, e a linguagem poética lê-se pelo menos como dupla”. Essa conceituação, importante para a área dos Estudos Comparados em Literatura, suscitou numerosas reflexões e reformulações, dentre as quais as elaboradas por Cesare Segre, o qual ponderou sobre a necessidade de distinção entre uma vinculação textual direta, fundada na coincidência comprovada de enunciados dentro de uma obra, e uma relação com fronteiras menos definidas, construída a partir de relações estabelecidas na convivência de materiais diversos, antropológicos, paradigmas ideológicos e valores culturais. O semiótico reserva então o termo Intertextualidade para referir as relações entre texto e texto, enquanto o termo Interdiscursividade designaria ”as relações que cada texto, oral ou escrito, mantém com todos os enunciados (ou discursos), registrados na cultura correspondente e ordenados ideologicamente além de todos os registros e níveis” (Intertextualità e interdiscursivitànel romanzo e nella poesia).
A partir dessas considerações, o XX Encontro de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa propõe a discussão de como um discurso literário traz, em sua constituição, outros discursos ou outros sistemas semióticos, como os do domínio da pintura, da música e do cinema, por exemplo, ou ainda outras séries culturais como a Antropologia ou a História, estabelecendo diálogos que não raro propõem o descentramento de sentidos já consolidados e veiculados.
São, portanto, convidados a inscreverem-se trabalhos no âmbito dos Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa que discutam e apresentem leituras em que a interdiscursividade entendida como um “processo em que se incorporam recursos temáticos e/ou figurativos, temas e/ou figuras de um discurso em outro” (Fiorin, Polifonia textual e discursiva, 2003) estejam presentes.